09 setembro 2005

Momentos...


Momentos
Por Ira Brito

Há momentos que a vida é cinza, noutros tudo é colorido. Há momentos que o sol brilha, o céu é azul e a vida é só beleza, esplendor, encanto. Há momentos nublados, há noites sem estrelas. Há trevas, medo, vontade de nem ser. Há momentos que tudo é flor, é cheiro, é sabor. Há momentos de frieza, indiferença, descaso, fuga. Há momentos que preferimos a solidão, noutros queremos multidão. Há momentos que nos roubam a primavera, arrancam nossas rosas e semeiam erva-daninha no jardim de nossa vida. Há momentos de prazer comprado, de sentimentos traídos, de amor não correspondido. Há momentos de desalento, de enfado, de tédio. Há momentos em que tudo é sério: não há piada engraçada, nem o mais hilariante dos palhaços provoca risos. Há momentos de fracasso. Há momentos que se jura amor eterno. Há momentos que o amor se esvai, que a gente vacila, que as promessas já eram. Há momentos que desejaríamos voltar ao passado; noutros, preferiríamos apagá-lo, deixar nem rastros. Há momentos que levamos a vida, que a empurramos com a barriga, que nada nos fascina. Há momentos que o entusiasmo nos preenche, que a esperança nos convence. Há momentos que tudo nos comove, que ninguém nos põe à prova. Há momentos que a fé move montanhas. Há momentos que nenhum ser humano nos é estranho. Há momentos de perdas e danos. Há momentos que arriscamos a vida, que a culpamos por tudo. Há momentos que o medo nos balança, que a esperança cansa. Há momentos que a confiança não é vã.

04 setembro 2005

A mancha...



















A Mancha...

Ira Brito

Sou parte de um todo
D'uma história complicada
Da raça humana extensão
Herdeiro de uma cilada

Dizem que já nasci
C'uma falta registrada...

Eclipse Total





Eclipse Total
Por Ira Brito

Despontou luminosa. Bela, exuberante, sedutora. É certo que todos viraram o olhar para apreciá-la. Parece que tudo girava em torno dela. Naquela noite foi grande o número de pessoas acordadas até altas horas, simplesmente encantadas pelo espetáculo gratuito.
Ela apareceu aos poucos, assim como quem no final tem uma surpresa a apresentar. Pois de repente estava lá, completa. Ao mesmo tempo que demostrava olhar para os que erguiam os olhos para ela, mostrava-se totalmente indiferente a todos. Seguia sua trilha silenciosamente. É que o silêncio às vezes diz mais que muitas palavras jogadas ao vento. Quantos corações não estariam pulsando naquele momento, com os mais profundos e contraditórios sentimentos humanos!
Foi traçando seu rastro luminoso e, como se houvesse acordo com o tempo, nada se intrometeu no caminho. Não foi necessário nenhum abre alas. A trilha era toda sua. Seguia cheia de brio, serena, admirável. Alguns olhos dizem que transmitia também tristeza. É, a vida não é feita só de contentamento, todos temos nossas dores, às vezes escondidas, mas bem reais, lá no íntimo. Cada um sabe onde a dor mais aperta.
A tristeza foi ficando visível no semblante dela. E quem disse que o belo também não é triste! Estava certo quem percebeu esse sentimento. Aos poucos uma sombra foi cobrindo-a. E não demorou muito a tornar-se totalmente ofuscada. Lá no alto, em fases, como é toda sua vida, foi desaparecendo. Parecia guardar mais uma surpresa para o final. De fato, a surpresa final veio. Foi-se a luz. A noite tornou-se escura. Dava até medo. A lua cheia sumiu. Eclipse total.