04 outubro 2005

CONTRASTES


Por Ira Brito


Novo dia. Na rua pessoas indo e vindo. A cidade não pára. Não dorme, não descansa, não cala. Homens e mulheres seguem seu caminho, sem saber ao certo aonde chegarão. Uns, têm passos firmes e olhar esperançoso. Outros, tateiam e olham baixo. Há medo, há pressa, há caos. A cidade bem que poderia ser mais humana. Bem que poderia ser mais igualitária. De um lado riqueza acumulada. De outro a miséria imperando: barracos, gente e rato. Lixo, esgoto, barata. Cachorro pitt bull, cão vira-lata. Prédios luxuosos, arranha-céus com suas fachadas asseadas, avenidas impecáveis. Vitrines prontas para hipnotizar, encantar, incitar o desejo. Por que tem que ser assim? Lá na outra zona, muita lama. Ninguém planejou as ruas, não houve projeto, tudo foi se formando conforme a necessidade de quem ali foi chegando. Esgoto a céu aberto, amontoado de seres humanos, teimando em viver, lutam dia e noite. Esse povo ri, chora, canta, dança. Tem fé, ainda sonha. Essa gente espera que um dia sua rua tenha nome oficializado, seja asfaltada, tenha esgoto canalizado. A cidade do lado de lá, e a do lado de cá, são dois extremos que não se tocam. São partes bem distintas. Nossa cidade tem muro, cortina, véu da vergonha. Invisíveis, mas bem reais, não precisa muito esforço para perceber. Há vida lá e cá. Há problemas em ambos os lados. Mas há privilégio lá. Há grito de dor do lado de cá. Há crianças querendo infância, espaço para brincar, sorrir, ser gente.