30 junho 2006

INVERNO

Por Ira Brito

Sou caseiro e no inverno fico mais ainda.
Com o frio é ótimo ficar em casa,
assistindo a um bom filme.
Ler deitado na cama e bem agasalhado,
enquanto aguardo o sono.
No inverno é mais prazeroso tomar chá,
tocar a xícara quentinha
e se aquecer com o sabor
e o bate papo amistoso, sem compromisso.
Gosto dos dias claros, sobretudo do amanhecer,
em que o sol desponta amarelinho
e seus raios derretem o gelo sobre a grama.
Os dias cinzentos me trazem tristeza.
Uma tristeza que não faz mal sentir.
Nem sei explicar como é.
Só sei que é algo meio doído.
O inverno é dor.
Parece com perdas, solidão, abandono.
É um aperto, sabe.
O inverno para mim é mais existencial,
faz a gente se recolher,
mergulhar mais no eu,
pensar na existência.
O inverno é também inspirador.
Suscita uma inspiração do próprio ser.
Os sentimentos parecem ficar mais à flor da pele,
me torno mais suscetível.
O inverno me reporta a “outros mundos”.
Ele me remete ao sertão dentro de mim,
isto é, a uma saudade do chão sagrado
e quente que me gerou.
E mais: o inverno me lembra a cor preta
que prevalece nos casacos
que desfilam suntuosos nas ruas
e nos corredores largos da moda.
O inverno me entristece pelos humanos
jogados nas calçadas, trêmulos,
com seus olhos cinzentos e suas feições,
suplicando: me aqueça! ...

25 junho 2006

CENTELHA

Por Ira Brito

Abajur ligado. Quase sombra.
Deveria ser insônia.
Disse:
– A noite é perigosa. É tanta coisa na cabeça da gente.
Respondeu:
– É verdade...
O silêncio se fez. A luz se apagou.
Rolou e o sono veio. Sonhou.
Mergulhou no subconsciente.
Até sofreu.