15 julho 2006

BANCO

Por Ira Brito

Retorno meio obscuro.
Várias vezes aquele retorno.
Caras de indiferença.
Uns parceciam do tempo real,
outros eram gente nova.
Aquelas reuniões de abertura,
eu ali quieto, meio sem graça;
quase ou totalmente excluído.
No início me deixaram atrás de uma coluna,
ou como diz no popular, de um parapeito.
Penso hoje, que aquela era uma estratégia
de não me deixarem exposto ao público.
Minha cara cheinha de espinha, tinha vergonha.
Ixe, que chato quando me perguntavam:
– O que foi isso no seu rosto?
Só respondia por educação.
Sim, mas depois me puseram pra trabalhar
na primeira cadeira, bem na entrada do banco.
Já me sentia mais familiar no espaço.
No entanto, minha timidez de menino do sítio,
criado no mato até os 15 anos, impediu que
avançasse mais na experiência.
Fiquei ali durante dois anos. Até completar os 18.
Ingressei porque venci na prova de seleção.
Dos quatro colégios públicos
que disputaram àquela vaga,
somente eu consegui.
Nem acreditei quando me disseram o resusltado.
– O padre passou na prova, disse o gerente
É que na entrevista, havia revelado meu desejo de
um dia me tornar padre. A turma lá até riu de mim.
Na hora do resultado, era pouco mais de meio dia.
Eu sem jeito, nem lembro como reagi...
Nossa, ainda nem conhecia bem a cidade.
Alguns meses somente.
Estava me adaptando à vida urbana.
Sequer sabia ao certo o endereço do banco.
A diretora do colégio, onde eu estudava
me chamou na secretaria e disse:
– Você foi selecionado para concorrer a
uma vaga de estagiário no Banco do Brasil.


***

Sei lá porque sempre sonho, retornando àquele estágio!
Ontem sonhei de novo. Tudo tão estranho.
Eu lelé, tonto no meio daquele gente,
totalmente desterritorizado,
deslocado do tempo e do espaço.
Será se Freud explica?
Essa coisa de subconsciente
é mistério mesmo...

ARENGADO

Por Ira Brito

A morte não é problema
A vida também não é.
Não quero estar morto-vivo.
Também não sou um qualquer.
Enquanto eu respirar
Não aceito ser mané...

14 julho 2006

ESCAPE

Por Ira

De letra em letra
Meu ser deságua
Em pranto...

OCO

Por Ira Brito

Sim, é bom livrar-se dos desejos ocos...

CONTIDO

Por Ira Brito

Um gole de mágoa
Um trago de solidão
Um respiro de abandono
Um gemido de paixão
Um olhar atravessado
Um soluço de tensão...

Subiu e desceu correndo
Três lances daquela escada
Abriu e fechou a porta
Não queria pensar em nada
Saiu sem rumo na rua
Com uma raiva danada...

Um sentimento estranho
Tal revolta adolescente
Chegou sem mandar aviso
Na hora do expediente
Justo naquele dia
Que acordara contente...

Mas nada é por acaso
Tudo tem razão de ser
A raiva foi explosão
Do que não devia reter
O sentimento abafado
Pelo medo do prazer...

Cada um leva consigo
Algo de livro aberto
Carrega também um cofre
Singiloso e bem coberto
Nem o mais fiel amigo
Adentra neste deserto...

Nem que seja bem esperto.
Há coisas que vão pra tumba...

12 julho 2006

SEGUNDO

Por Ira Brito

Ah, Tempus Fugit!
Que saudade daquele tempo inocente!
O armador em roc, roc, roc
O calor pingando.
Lá fora o horizonte trêmulo.
Eu na rede, em frente a janela
Via o céu bem azuzinho
E uma nuvem levemente
Carregada pelo vento...

11 julho 2006

REMÉDIO

Por Ira Brito

Quando abriu a sacola havia três medicamentos.
– Mas eu comprei somente dois.
Leu as embalagens e num deles o nome: PLATÃO.
– Nossa, que remédio é este?
Viu o preço e achou absurdo.
– Muito caro, tá louco!
Não entendeu como aquele remédio foi parar em
sua sacola, tampouco lembrou de ter pago aquele valor.
Por sinal muito alto.
– E agora, o que é que faço com isto?
– E os efeitos colaterais?
Pensou, pensou e monologou:
– Há remédios que curam, outros que complicam.
– Vou experimentar este tal de Platão...
– Sem prescrição médica...

CIÚMES

Por Ira Brito

Andava tristonha
O ciúme a consumia
Seu coração em chamas
Pobre peito padecia
Amava e não era amada
Seu viver: agonia...

Cada hora do seu dia
Vivia no padecer
A comida não tinha gosto
Em nada sentia prazer
Por mais que o sol brilhasse
Não parava de sofrer....

10 julho 2006

LUA

Por Ira Brito

A lua cheia despontou da lagoa
Pampulha de tantos mundos.
Lua de Julho, sempre a maior.
Bela lua do dia 10.
Sei não... essa lua de julho...
Me apaixonei mais ainda por ela.
Lua inteira. Você e eu: UM
Em pedaços, em fases, encantos...