16 dezembro 2006

CAPUCHO


Por Ira Brito

Da flor nascerá
o capucho de algodão...
Vagueia pensamento
Pode alimentar ilusão
Vai lá onde o existir é nada
Passeia no vale das almas apenadas
Conversa com os seres sedentos
Que não pesam na balança da lei
Na lei dos que só pensam no bolso
No seu próprio bolso...
Vagueia pensamento
Na vida maldita dos que hoje são lixo...
Lixo podre e ambulante, volante...
Vagueia ondulante qual montanha
Qual estômago em náusea
Vagueia na orla, na margem do existir
Corre veloz, não em fuga...
Ali há um ser com pulga
Não pense que seja cão
É um ser que um dia teve razão...
Inhaca, insuportável inhaca
Não, não é gambá
Era só o que faltava
Gambá urbana...

13 dezembro 2006

ABSURDO

por Ira Brito

Se aquilo era sobre mim?
Se sou humano, sim!
Se é absurdo? Que seja.
Você nunca teve brotoeja?

Acho que teve
E deve ter sofrido
Deve ter fingido a dor
E até se desfarçado
Em um vencedor...

Aquela dor é minha
Porque é de alguém
Sim, é minha também.
E não é coisa do além...

Se eu sou pagão?
Algum pedaço
Em mim deve ser.
É que, às vezes,
Sou um absurdo
Para não ser mudo
À dor do mundo...

Não precisa entender
Nem tente isso.
E se tentar
Cuidado com o susto...

10 dezembro 2006

PERDIDO


Por Ira Brito

Amar dói
dói tanto
Amar amarga
Amar humilha
Amar faz rastejar
Amor não correspondido
Faz chorar....

A gente quer colo
Quer desabafar
Quer fugir
Quer ar para aliviar...

A gente não quer sofrer
Mas não tem jeito
Nada é perfeito
Ainda bem!
Mas dói tanto no peito...

Palavras,

Eu te degusto
Deságuo em ti
Choro em pranto
No meu canto
Sozinho, no banco...

Procuro me agarrar
Nada alcanço
Nem descanço
Não há ponto
Só reticência
Sem ciência...

Cada lágrima
Em seu sabor de sal
Escorre e deságua
Em meu poço universal...

Poço que me parte
Poço que me une
Poço que me pune
Poço....

Amar é perder-se
É demorar
Para se achar...