17 fevereiro 2009

delírio

escrever é parir
é sofrer e depois sorrir
sorrir pelo fruto do ventre
das entranhas em carne viva
dor suada, tez cativa

escrever é deixar de ser eu
é ser alegria ou dor de outrem
é permetir que me confundam
ou que outros me encontrem
perdido nas zonas de mim mesmo

escrever é mais que fuga
é ficar na linha de frente
é um modo de ser gente
ou mesmo uma pulga

por gostar de ser eu
ou por não querer ser assim
escrevo, rabisco e declamo
reclamo, grito em mim

me desfarço, me refaço
sumo na fumaça
termino sem graça
meu humor não é da praça

sou silêncio sem calma
corpo e alma unidos
quase sempre partidos

nem sei quem sou
se ódio ou amor
se prazer e dor
tudo junto

sou um ser aí
no mundo
mundaneidade, clareidade
ou escuridão e solidão

se não sou
quero ser
vou parar
não quero terminar

não sou do fim
sou mistura de abel
e caim

4 comentários:

  1. Acho que já te disse, mas quando leio seus poemas imagino que você esteja os recitando pra mim. Sua voz, seu timbre sao uma extensão das palavras. E é também fabuloso o quanto consegue implantar no que escreve a mesma humildade e doçura com que vive.
    Beijos

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  2. Como sempre, um belo poema, cheio de humanidade e doçura (como diz danúbio). Também queria que você declamasse seus poemas para mim.
    Beijo
    Carpe Diem!!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Nossa! Inspirado, envolto, a unidade da expressão o ser e a alma!

    meu grande abraço

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