18 fevereiro 2011

desarticulação

nada no nada
água, lodaçal
pescoço
veias, sangue
osso
voa sem asas
carvão e brasas
meio tonto
nunca pronto
em pranto
zonzo da noite
anjo torto
vertigem
morto...

17 fevereiro 2011

desejo

quero pisar a terra
descalço e sem medo
deitar no chão
balbuciar meu segredo
sentir a brisa
seu hálito

quero pular nos galhos
da grande árvore
acariciar a manja
lambuzar-me todo
engolir o suco

quero a vida
seu gosto...

16 fevereiro 2011

luta

as formigas subiam pernas acima
o sol derretia de cima abaixo
os poros expeliam suor

líquido que era sangue
sugado pelo opressor

oh, senhor!

o pelo da palha a pele ardia
a fome as tripas retorcia
humano feito palha e lama

quando papai conta
bato no peito
sinto o luto
a alma dói

alimento minha luta
contra as vacas de basã
alimento a resistência
contra os touros de basã...

15 fevereiro 2011

céu de mim

na fugacidade da imagem
frente a esfinge presa na tela
a cortina esconde a janela
e as unhas coçam o segredo

no espelho as rugas afundam
no íntimo os desejos abundam
e lá fora o céu azul chama
chama de mim...

14 fevereiro 2011

piano

o piano tine em mim
estremece cada parte
pedaços meus
eu pedacinhos
cada nota é uma pontada
lá onde o existir é dor...

13 fevereiro 2011

sim, são meus olhos
os mesmos de menino abandonado
lembra quando você me olhou com dó?
eu não queria dó


pois seu olhar de dó
me deu um nó na garganta
e nunca esqueci
sequer pude pigarrear naquela hora
nunca engoli aquele olhar
ele ficou preso
tal o pedaço da maçã de adão


sim, são meus olhos...
mas não venha de novo 
com seu olhar de dó...