20 outubro 2005

COLCHA DE RETALHOS

Por Ira Brito

O questionamento é
Onde mora o amor?
A resposta não é fácil
Impõe busca e rigor
A vida em fragmentos
Tecida em meio à dor...

O esforço de cada um
Por sua "cara metade"
É um caminhar difícil
Tesouro de felicidade
Gera delícia e dor
Sufoco e dificuldade...

É a dinâmica do amor
Algo tão misterioso
Juntar cada retalho
Num esforço grandioso
Está pronto pra recomeçar
Em cada ato teimoso...

O desafio nessa busca
É ir além da metade
Mergulhar o corpo todo
Sem temer profundidade
Enfrentar os desafios
Nas asas da liberdade...

A história de cada um
É feita de fragmentos
Os retalhos são pedaços
Dos corações sedentos
As cores revelam algo
D’alma e dos sentimentos...


Se alguém é aqui da terra
O outro é lá do mar
Os extremos se abraçam
E se apaixonam no olhar
Os corpos se tocam suaves
No encantamento de amar...

É certo que no amor
Há também a traição
Mas não compete julgar
De ninguém a tal ação
A carência às vezes força
A agir sem a razão...

Mesmo estando juntos
Há o medo da partida
Brigas sem cabimentos
Numa angustia ressentida
Solidão acompanhada
Alma triste e ferida...


A vida é um espetáculo
Cada um é um ator
Pode ser também palhaço
E fingir que sente dor
Ou mesmo rir sem graça
Numa situação de horror...

No aprendizado da vida
É bom juntar os pedaços
Se o "sapato aperta o pé"
É só folgar os cadarços
Mas se "bater com a cara"
Tem que curtir os inchaços...

É por isso que a crise
É como um vendaval
Ela nos joga no chão
E nos faz sair do normal
Nos força provar do fel
E cair do pedestal...


Se houver "morangos quentes"
Graúdos e saborosos
Vermelhinhos bem saudáveis
Empinados e gostosos
Pode suscitar tentação
E minutos grandiosos...

Encontrar a alma gêmea
Exige transformação
Libertar-se das amarras
Do rancor do coração
Comunicar o afeto
E oferecer o perdão...

Reconstruir a vida
Com a antítese do corvo
Cobrir-se com a colcha
Gerando um mundo novo
Para sua própria história
E para ninguém ser estorvo...


Quando se encontra a meta
A colcha é finalizada
Dorme-se sono tranqüilo
Não existe hora errada
A experiência é rainha
O horizonte é estrada...