26 outubro 2005

MEDO

Ira Brito

A rua deveria ser o espaço da liberdade. Mas nem sempre é. Se observarmos como as pessoas andam na rua, vemos que todos caminham como se fugissem de algo ou de alguém. Há corre-corre. Multidão que se toca e não se sente. Todos se olham e não se vêm. Estranhos.
Não, ninguém quer dizer que andemos por ai cumprimentado todo mundo. Bom seria se assim fosse. No interior ainda é possível fazer isso. Na cidade grande
o medo nos aterroriza. Temos medo de assalto, de seqüestros, da violência. Tudo pode ser suspeita. Alguma coisa nos aprisiona. E a rua, que deveria ser o espaço público da liberdade, transforma-se em ambiente refém do medo. É triste ter de passar para o outro lado da rua, temendo que o semelhante seja uma ameaça. Às vezes, pode ser o vizinho que mora no mesmo prédio, mas ninguém trocou sequer uma palavra. Por isso a estranheza.
A rua precisa ser o espaço do encontro. Aquele encontro, ainda que passageiro, no entanto, cordial. Por exemplo, um bom-dia, um aperto de mão, um aceno. Essas pequenas coisas que podem nos tornar mais humanos. Sim, mais humanos. Por que os tempos pós-modernos querem nos transformar em pequenas super-poderosas-máquinas. Somos sentimentos. Se não atentarmos para isso podemos nos transformar em seres vazios. E não fomos criados para o vazio, mas para felicidade completa.