10 setembro 2011

desenho de nomes

da janela desenhava nuvens
e desenhava nomes também
com letrinhas-garranchos
alcançava o céu assim


o céu azul lá no alto
era um infinito tão profundo que doía na alma
lá dentro
bem no fundo


um dia teve de abandonar a imaginação
e por sina
teve de enfrentar a crueldade real da vida


o céu era tão largo
tão azul
tão intenso
mas a vida era tão pequena
se resumia àquilo ali
um quintalzinho


nos olhos grandes e da cor da dor
da cor da expressão de todas as lágrimas
estavam secos
tal seu ventre depois de dá à luz a tantos filhos


e no fim de tudo
apenas um caixãozinho no meio da pequena sala...


07 setembro 2011

jornal de monturo

ainda bem pequeno, nem lembro que idade tinha
lembro apenas que assim era
e lembrança de infância a gente nunca esquece
tempos atrás me disse um senhor de oitenta e lá vai mais anos, o querido frei pascoal,
que na velhice se volta a sonhar as lembranças desse tempo indelével...
bem, mas não estou velho ainda...
pois hoje me peguei a pensar de como li jornal pela primeira vez:
eu li jornal de monturo 
jornal muitos dias vencidos, até meses e anos passados
para mim não havia passado, tudo aquilo era presente
jornal de monturo eram aqueles que meu irmão levava enrolados nas pedras de gelo
uma caixa de isopor cheia de pedras de gelos para conservar o peixe
nós não tínhamos eletricidade...
eu me sentava na sombra de alguma moita ali no terreiro de casa
e soletrava as palavras
havia palavras bem difíceis, mas eu não tinha a pretensão de entender nada
eu queria apenas estar perto das palavras...