21 abril 2007

porção

bela beleza
não quero certeza
nem meias-verdades
sim, suporto saudades
até finjo e me assalto
subo no muro e salto
mas não minta assim
não arranque de mim
o pedaço que resta
da frase na testa
aquela frase torta
que era nossa porta...

20 abril 2007

brisa


na língua, gosto de existência salobra
nas mãos o tremor da manobra
manobra e desafios de ser
ser sem a dor da morte
sem depender da sorte
ser inteiro e não farelo

poder fruir do belo
da beleza sem moda
que até me deixe nódoa
e me acorde, desperte
o que em mim é inerte...

18 abril 2007

remoto


oco, cinza, vazio
forte desassossego
ainda afeito ao apego
numa existência sem brio

é como fosse e não fosse
estivesse e não estivesse
uma sensação inominável
um sentimento detestável

imediatismo cruel
não se compromete
mas na vida se mete
espalhando seu fel...

16 abril 2007

na lama

sorriso de dentadura
semblante de amargura
na testa uma inscrição
que a torna separada
sem futuro e desgraçada
tendo o destino a exclusão

fede mais que lixo
vista como bicho
sua casa é a rua
já nem sente medo
uma vida sem segredo
de alma fria e nua...

15 abril 2007

silenciosa reza

de joelhos e mãos postas
numa reza toda inocente
não precisou de palavras
para expressar o que sente
bastou mesmo aquele gesto
aos pés do onipotente

aos pés do onipotente
que ela nem sabe quem é
só mais tarde atentará
por qualquer visão de fé
não precisa de conceitos
nem da profissão de Tomé

aquela cena infantil
muito me comoveu
a mensagem icônica
por si só já valeu
a oração da criança
acordou o peito meu...