04 setembro 2009

anjo da lua nova

eu remava a canoa
nas águas do angico
a lua nova se escondia
sentia na pele um ventinho morno soprar
e o cheiro de peixe no ar

na proa uma mãe e um anjinho no colo
o anjinho gemeu
quase um grito
a mãe alarmou:
"meu filho morreu"

ainda não era a hora
mas o anjinho padecia
seus olhinhos molhados
escondia uma dor sem nome
a rezadeira foi direta:
"este menino não vai até dimanhã"

as quatro da madrugada
sua curta passagem neste mundo findou
três meses de sofrimento

a tarde atravessamos o açude
três canoas
numa delas
um caixãozinho com algumas flores

"com minha mãe estarei na santa glória um dia..."
cantávamos

o anjinho foi sepultado ao pé da cruz de um antepassado
o cheiro de talco
o cheior da flor de bugari
é a lembrança de uma dor
de um sentimento
que palavra alguma pode expressar...