04 setembro 2005

Eclipse Total





Eclipse Total
Por Ira Brito

Despontou luminosa. Bela, exuberante, sedutora. É certo que todos viraram o olhar para apreciá-la. Parece que tudo girava em torno dela. Naquela noite foi grande o número de pessoas acordadas até altas horas, simplesmente encantadas pelo espetáculo gratuito.
Ela apareceu aos poucos, assim como quem no final tem uma surpresa a apresentar. Pois de repente estava lá, completa. Ao mesmo tempo que demostrava olhar para os que erguiam os olhos para ela, mostrava-se totalmente indiferente a todos. Seguia sua trilha silenciosamente. É que o silêncio às vezes diz mais que muitas palavras jogadas ao vento. Quantos corações não estariam pulsando naquele momento, com os mais profundos e contraditórios sentimentos humanos!
Foi traçando seu rastro luminoso e, como se houvesse acordo com o tempo, nada se intrometeu no caminho. Não foi necessário nenhum abre alas. A trilha era toda sua. Seguia cheia de brio, serena, admirável. Alguns olhos dizem que transmitia também tristeza. É, a vida não é feita só de contentamento, todos temos nossas dores, às vezes escondidas, mas bem reais, lá no íntimo. Cada um sabe onde a dor mais aperta.
A tristeza foi ficando visível no semblante dela. E quem disse que o belo também não é triste! Estava certo quem percebeu esse sentimento. Aos poucos uma sombra foi cobrindo-a. E não demorou muito a tornar-se totalmente ofuscada. Lá no alto, em fases, como é toda sua vida, foi desaparecendo. Parecia guardar mais uma surpresa para o final. De fato, a surpresa final veio. Foi-se a luz. A noite tornou-se escura. Dava até medo. A lua cheia sumiu. Eclipse total.

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