14 setembro 2005

Esquina...





ESQUINA
Por Ira Brito
Na esquina, corpos à venda. Mercadoria humana. Não adianta disfarçar. Há corpos, sim. A noite é testemunha. São corpos jovens. Cheios de vida. A cidade olha, apenas olha. Na esquina a hipocrisia da cidade se revela. Os preconceitos se escondem. A vida se consome. Na esquina o pé é veloz. O pneu canta. O carro ultrapassa os limites, o pedestre corre. O farol põe limite. O florista oferece flores vermelhas. O panfletista quer se ver livre das chatas folhinhas. Na esquina as pessoas se cruzam e não se vêem. Alguém pede ajuda. O mendigo é quase pisado. Os tamancos desfilam. O bêbado cambaleia. Na esquina há medo de assalto. Há fumaça. Há cheiro de churrasco. Há churros à venda. Há pessoas correndo. Na esquina há crianças sujas com flanela nas mãos. Há rostos humilhados. Há desempregados na fila cruzando a esquina. Há olhos arregalados. Há pressa. Na esquina, o vendedor de balas. O vendedor de cintos e carteiras. Alguém grita: olha o passe! Na esquina há músicas tristes. Cds piratas.
Na esquina a calçada é mercado livre. É cama do sem-teto. É abrigo dos sem-vida. É um cantinho da cidade. A noite e o dia são testemunhas deste mundo à parte. A esquina é mais do que sinônimo de vida fácil. É mais que as expressões preconceituosas ditas por ai. Uma boa parte da cidade está na esquina. A esquina como sinônimo dos varridos pelos sistema injusto. A esquina no sentido dos anônimos que lutam pela sobrevivência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário