28 setembro 2005

CAOS


Esperança no caos


Ira Brito


Um cão triste na rua. Alguém o abandonou.
Seu olhar é desolado.
Não tem o brilho luminoso comum aos olhos dos cães.
Um humano passa e chuta o pobre cachorro.
Chuta por chutar.
Simplesmente pelo desejo de fazer o mal.
O pontapé é violento. O cão sai ganindo.
Se soubesse falar, com certeza,
suas palavras seriam pedido de socorro.
Um homem sentado na praça. Parece fora de si.
Não tem aparência humana.
Seus olhos são apagados.
Suas vestes, trapos imundos.
Exala cheiro desagradável.
Todos baixam a cabeça ao passar perto dele.
O homem estende a mão, suplica ajuda.
Sua súplica é choro sem lágrimas.
Uma criança mexe o cesto de lixo.
Estaria a procura de objetos recicláveis?
Suas mãozinhas sujas
reviram com rapidez os restos ali depositados.
A criança de olhos acesos, porém tristes.
Ela parece assustada.
De repente apalpa algo e, súbito,
assim de modo animalesco,
leva à boca uma coisa que parecia coxa de frango.
Come com desespero.
Uma Brasília cinza. Crise. Cadê o dinheiro?
O gato comeu. E ninguém viu. O gato sumiu.
Mensalão, mensalinho. Não desceu no ralo.
Pousou em contas gordas.
Saiu da goela das crianças famintas,
das dores de quem tem que ficar horas
e horas nas filas dos hospitais públicos.
A vida não é respeitada.
Há lamento, angústia. Revolta.
A corrupção é velha e fede.
Tudo anda meio revirado.
A vida está triste.
Mas a esperança ainda é devir.
Ela é mais que tudo isso.

Um comentário:

  1. Parabens Ira!!! É assim que se TESSE opinião!!!! Tem que descancar o PAU nessa podridão que está acontecendo em nosso país!!
    SIM PARA A MUDANÇA!!!!!

    ResponderExcluir