02 setembro 2005

Devaneio






Devaneio

Por Ira Brito

Dias desses me peguei pensando na morte. De repente me vi sozinho numa sala enorme, escura e vazia. Meu corpo estava coberto de flores e uma vela triste chorava e se consumia por mim. Senti a frieza dos pés e a dureza da pele pálida. Meu pensamento divagou rapidamente e já não me encontrava na sala, agora era levado para a sepultura. Uma multidão seguia meu funeral. Quando me vi sepultado tremi nas bases. Tive um arrepio que doeu a espinha dorsal. Súbito o pensamento sinistro foi embora. Ainda bem.
Não me pergunte por que pensei nisso. Nem eu sei. São essas coisas, que sem a gente deixar invadem a imaginação. Que um dia minhas carnes serão comidas pelos vermes ou transformadas em cinzas não há dúvida. Mas pensar nisso pra quê?! Repito: não sei por que imaginei tal cena. Não ando pensando em morrer. Um dia partirei, mas ainda tenho muito o que fazer por aqui. Vai pra lá pensamento agourento!
Apesar de o mundo está um caos, vale acreditar que a vida é bem mais. Muito mais que as amizades virtuais. Além dos relacionamentos superficiais e o prazer comprado. Muito mais que as aparências. É mais que aquela dor apertada, contida, sangrando lá dentro. A vida é mais que os perigos, é mais que os riscos. É bem mais que as regras. É mais que a paixão e além da razão. Muito mais que a solidão. É mais que o orgulho. Vai além dos nossos planos. A vida é bem mais que a droga. É mais que o preconceito. A vida é bem mais que a fome, a doença, a miséria. É muito mais que os desencontros. A vida é bem mais que a mediocridade. É mais que o convencional. Vai além do destino. É mais que a sorte. É muito mais que as perdas. A vida é bem mais que a morte.

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