a mentira é a morte da amizade
a primeira mentira deixou um vácuo imenso
no coração humano
de lá pra cá
um buraco há
no asfalto em trânsito intenso
causando acidente
é a mentira que separa
e deixa a alma doente
somente a verdade repara...
26 novembro 2012
24 novembro 2012
nem sei
não estamos aqui para entender tudo
nem levar no peito o silêncio mudo
estamos aqui para sentirmo-nos
em casa no mundo...
nem levar no peito o silêncio mudo
estamos aqui para sentirmo-nos
em casa no mundo...
19 novembro 2012
verso
diria que todo verso é uma prece
mesmo que o poeta não consinta
a musa é quem sabe a cor da tinta
e a hora em que o coração se aquece
o sentimento é a coisa mais fina
já disse Adélia poetisa
não há teoria que o defina
digo que o verso é feito brisa
desce
ou incenso que sobe
do chão ao céu sem divisa
e nunca se esnoba
tampouco de provas precisa...
mesmo que o poeta não consinta
a musa é quem sabe a cor da tinta
e a hora em que o coração se aquece
o sentimento é a coisa mais fina
já disse Adélia poetisa
não há teoria que o defina
digo que o verso é feito brisa
desce
ou incenso que sobe
do chão ao céu sem divisa
e nunca se esnoba
tampouco de provas precisa...
18 novembro 2012
universo
segue na margem dos versos
vida além do comum
no terreno do reverso
um, dois, três, alguns
no peito: tum, tum, tum
pulsa em si o universo...
vida além do comum
no terreno do reverso
um, dois, três, alguns
no peito: tum, tum, tum
pulsa em si o universo...
11 novembro 2012
ventilador
ventilha a dor
gira, gira, gira
ventilador
o domingo pira
a pessoa, a ilha
lá fora, novembro chove...
gira, gira, gira
ventilador
o domingo pira
a pessoa, a ilha
lá fora, novembro chove...
teia
persignava-se em frente ao cruzeiro
e quando passava na sombra densa do juazeiro
o pelo sinal da santa cruz para outra atmosfera o transportava
medo havia, mas nada o desencorajava
chegou a exorcizar pai de chiqueiro
e em noite de lua cheia
deitava-se no terreiro
cobria-se com a teia
teia invisível do ser e o do nada...
e quando passava na sombra densa do juazeiro
o pelo sinal da santa cruz para outra atmosfera o transportava
medo havia, mas nada o desencorajava
chegou a exorcizar pai de chiqueiro
e em noite de lua cheia
deitava-se no terreiro
cobria-se com a teia
teia invisível do ser e o do nada...
07 novembro 2012
viver é jangada
é preciso passar a segunda
para desfrutar a sexta
isso não é óbvio
viver é jangada
a vida não é pra ser ancorada...
para desfrutar a sexta
isso não é óbvio
viver é jangada
a vida não é pra ser ancorada...
a vida é rio
a vida começa e descomeça
esquenta, amorna e esfria
pode haver ruga na testa
ou nos lábios alegria
mãos trêmulas, peito aberto
na coluna arrepio
um dia vai, a noite desce
tudo escurece
o sol nasce
a vida é rio...
esquenta, amorna e esfria
pode haver ruga na testa
ou nos lábios alegria
mãos trêmulas, peito aberto
na coluna arrepio
um dia vai, a noite desce
tudo escurece
o sol nasce
a vida é rio...
correnteza
sem manual
nada de instrução
nada de receita
mas suspeita
peita o conceito
abraça a intuição
segue o caminho
escreve o destino
com alma e coração
a certeza?
ah, a certeza é correnteza...
nada de instrução
nada de receita
mas suspeita
peita o conceito
abraça a intuição
segue o caminho
escreve o destino
com alma e coração
a certeza?
ah, a certeza é correnteza...
anjo
quando a noite desce
a alma um poema entoa
quase uma prece
então o pensamento voa
e os olhos pesam
o vento ressoa
no sonho, um anjo
comunicando coisa boa..
a alma um poema entoa
quase uma prece
então o pensamento voa
e os olhos pesam
o vento ressoa
no sonho, um anjo
comunicando coisa boa..
ressurreição
quando o céu desaguar
haverá o grande encontro
e nas veias abertas da terra
a vida escondida renascerá...
haverá o grande encontro
e nas veias abertas da terra
a vida escondida renascerá...
05 novembro 2012
o trem seguia
Olhou com súbito desejo
feito gatinho lambendo os beiços
baixou o olhar qual cãozinho repreendido
o sol pregava denso na pele
então, mirou o infinito
e sem notar
fez uma careta bem feia pro mundo
o trem seguia
logo chegaria
Deus guia...
feito gatinho lambendo os beiços
baixou o olhar qual cãozinho repreendido
o sol pregava denso na pele
então, mirou o infinito
e sem notar
fez uma careta bem feia pro mundo
o trem seguia
logo chegaria
Deus guia...
01 novembro 2012
alma grande
tinha a alma grande, diziam
por vezes, sentia o coração triturado
nem por isso cedeu ser alma pequena
entrou deserto adentro, foi tentado
feito Paulo, Francisco ou Teresa
sabe que o mundo é arena...
por vezes, sentia o coração triturado
nem por isso cedeu ser alma pequena
entrou deserto adentro, foi tentado
feito Paulo, Francisco ou Teresa
sabe que o mundo é arena...
31 outubro 2012
menor abandonado
já não era menino
mas tinha cara de menor abandonado
tadinho, diziam, é carente
coitado
abraça, quer colo
olhos aguados
miragem ausente
chora fácil
tolo não é, porém
o menino da foto
mas tinha cara de menor abandonado
tadinho, diziam, é carente
coitado
abraça, quer colo
olhos aguados
miragem ausente
chora fácil
tolo não é, porém
o menino da foto
seu olhar agudo
pergunta: quem é quem
voz de ninguém
quem sabe um dia
seja alguém...
pergunta: quem é quem
voz de ninguém
quem sabe um dia
seja alguém...
30 outubro 2012
cais do peito
inventar amizade não há
há a vontade de ligar
ligar duas solidões
unir corações reais
de sangue e carne
se a pupila dilatar
ou a lágrima teimar
foi autêntico
uma hora o peito baterá mais forte
e lá do cais do peito
há a vontade de ligar
ligar duas solidões
unir corações reais
de sangue e carne
se a pupila dilatar
ou a lágrima teimar
foi autêntico
uma hora o peito baterá mais forte
e lá do cais do peito
um aceno
para o sol
o amigo dos nascentes e poentes...
para o sol
o amigo dos nascentes e poentes...
28 outubro 2012
simples
não esperava a carta trazida pelo mar
dentro de uma garrafa
nem desejava o alcance da girafa
esperava que o celular tocasse
e ouvir nada mais além de um "oi"
esperava abrir o e-mail e ler "meu querido
o simples lhe deixava embevecido
tocava-lhe a alma
era-lhe acessível...
então abriu o livro
dentro de uma garrafa
nem desejava o alcance da girafa
esperava que o celular tocasse
e ouvir nada mais além de um "oi"
esperava abrir o e-mail e ler "meu querido
o simples lhe deixava embevecido
tocava-lhe a alma
era-lhe acessível...
então abriu o livro
e viajou num mundo sensível
pousou livre, suave e solto
mundo seu
a imaginação lhe deixava todo absolto
o mundo sua casa...
pousou livre, suave e solto
mundo seu
a imaginação lhe deixava todo absolto
o mundo sua casa...
27 outubro 2012
verso
quando tudo se liquefaz
ali a voz presa na goela
a noite desce fundo
na cara os olhos pedindo janela
janela da alma ou janela da casa
tuda vaza, segredos e medos
o tum-tum-tum pulsa e treme
o coração fora do peito
no vácuo o vento range ou geme
e o pensamento peita a razão
ali a voz presa na goela
a noite desce fundo
na cara os olhos pedindo janela
janela da alma ou janela da casa
tuda vaza, segredos e medos
o tum-tum-tum pulsa e treme
o coração fora do peito
no vácuo o vento range ou geme
e o pensamento peita a razão
em voo liberto
a voz ressoa
"faça-se a luz"
a saudade acordou
foi quando o anjo sorriu
e o verso se partiu
verso é intermédio
quando não, remédio...
a voz ressoa
"faça-se a luz"
a saudade acordou
foi quando o anjo sorriu
e o verso se partiu
verso é intermédio
quando não, remédio...
26 outubro 2012
gentileza
não tinha nada
nem ninguém
bolso sempre sem
tinha quase tudo:
liberdade interior
vontade de beleza
nenhuma certeza
farelinhos de amor
vez e quando...
foi-se um dia
é sempre lembrado
por sua gentileza e alegria...
nem ninguém
bolso sempre sem
tinha quase tudo:
liberdade interior
vontade de beleza
nenhuma certeza
farelinhos de amor
vez e quando...
foi-se um dia
é sempre lembrado
por sua gentileza e alegria...
25 outubro 2012
sangria
toda água de represa
anseia pela sangria
o vigia deseja sempre
a aurora do novo dia
a tristeza não tem vez
se no interior há alegria....
anseia pela sangria
o vigia deseja sempre
a aurora do novo dia
a tristeza não tem vez
se no interior há alegria....
20 outubro 2012
inundação
entre arames farpados
ali não lhe cabia
a alma árida
lá fora a liberdade corria
livre, livre, livre
não desistiu de amar
então a ternura se fez
deixou-se inundar....
ali não lhe cabia
a alma árida
lá fora a liberdade corria
livre, livre, livre
não desistiu de amar
então a ternura se fez
deixou-se inundar....
17 outubro 2012
paz
quando de si quase se perdia
ofegante o morro subia
ao encontro do silêncio
aquele de mosteiro
e a alma em arrepio
ofegante o morro subia
ao encontro do silêncio
aquele de mosteiro
e a alma em arrepio
gemia quieta
sede, fome, desejos
poço sem fundo
rio perene rumo ao profundo
então as vozes ecoavam
o coração ardia forte
o peito em coral
amém, amém, amém...
sede, fome, desejos
poço sem fundo
rio perene rumo ao profundo
então as vozes ecoavam
o coração ardia forte
o peito em coral
amém, amém, amém...
13 outubro 2012
olhar
de repente
um olhar soflagrante
num átimo, razoável comum
de uma cor sem nome
destituído de qualquer sinal de amor
um olhar soflagrante
num átimo, razoável comum
de uma cor sem nome
destituído de qualquer sinal de amor
não havia tempo, espaço
meio lama, meio aço
olhar de fome
nenhuma abertura
os olhos, nossos donos...
meio lama, meio aço
olhar de fome
nenhuma abertura
os olhos, nossos donos...
11 outubro 2012
vira-lata
a paz é o Jupi lá de casa
deita no meio da estrada
nem teme pontapé
sol já alto
abre um olho
espia o mundo
ressona
a paz é vira-lata...
deita no meio da estrada
nem teme pontapé
sol já alto
abre um olho
espia o mundo
ressona
a paz é vira-lata...
10 outubro 2012
força
uma lâmina fina de suor frio banhou-lhe a testa
murmurou uma reza sem nome enquanto o estômago dava voltas
quis abraçar a si, carne trêmula e fraca
ajoelha
e feito mulher de Atenas
fustigada não chora...
murmurou uma reza sem nome enquanto o estômago dava voltas
quis abraçar a si, carne trêmula e fraca
ajoelha
e feito mulher de Atenas
fustigada não chora...
09 outubro 2012
colo
sentia-se arredio
não havia nada de novo debaixo do céu
lá no meio da coluna, certo arrepio
tipo o frio que queima
e o gosto da ausência feito pigarro
teima, teima, teima
não é fumaça, nem cigarro
fez que engolia
lembrou-se dos soluços engolidos
tantas vezes
não havia nada de novo debaixo do céu
lá no meio da coluna, certo arrepio
tipo o frio que queima
e o gosto da ausência feito pigarro
teima, teima, teima
não é fumaça, nem cigarro
fez que engolia
lembrou-se dos soluços engolidos
tantas vezes
agora feito água parada
disse para si em voz alta:
não se engole melancolia
foi quando tudo desceu ralo abaixo
não sentiu alegria
a água porém acalmou os poros
e lá no íntimo se ouvia algo canoro...
disse para si em voz alta:
não se engole melancolia
foi quando tudo desceu ralo abaixo
não sentiu alegria
a água porém acalmou os poros
e lá no íntimo se ouvia algo canoro...
05 outubro 2012
profundo
se o discurso sai da garganta
sem raízes no coração
nem uma gota de emoção
a gente não se espanta
até fazemos olhar de santa
mas com ouvidos serrados
e a mente noutros estados
seja em almoço ou em janta
a palavra é coisa séria
tem de vir pelas artérias
lá do nosso poço fundo
deve ser bem preparada
do orgulho esvaziada
dizer do que é profundo...
sem raízes no coração
nem uma gota de emoção
a gente não se espanta
até fazemos olhar de santa
mas com ouvidos serrados
e a mente noutros estados
seja em almoço ou em janta
a palavra é coisa séria
tem de vir pelas artérias
lá do nosso poço fundo
deve ser bem preparada
do orgulho esvaziada
dizer do que é profundo...
01 outubro 2012
estrela
o céu estava tão estrelado
parecia tocar a terra
não havia planície nem serra
os olhos admirados, calados
brilhavam em direção ao infinito
infinito no chão, no solo do coração
tudo era bonito
bem no momento em que uma lágrima escorria
enquanto uma estrela solitária caía...
parecia tocar a terra
não havia planície nem serra
os olhos admirados, calados
brilhavam em direção ao infinito
infinito no chão, no solo do coração
tudo era bonito
bem no momento em que uma lágrima escorria
enquanto uma estrela solitária caía...
19 setembro 2012
sorriso coberto
não tinha dentes
nenhum sequer
escondia a graça com a mão
envergonhada cobria a alegria
a gengiva lamentava o dessabor
a vida real mesmo era nos sonhos
quando dormia e ria um sorriso cheio de dentes
aí ela existia...
nenhum sequer
escondia a graça com a mão
envergonhada cobria a alegria
a gengiva lamentava o dessabor
a vida real mesmo era nos sonhos
quando dormia e ria um sorriso cheio de dentes
aí ela existia...
28 agosto 2012
felicidade
felicidade tem os olhos da cor do louva-a-deus
as rugas expostas são quais compêndios
vigílias e reverências ao Sublime, ao Profundo
na madrugada calada e fria, quando ainda é escuro
as vozes como que em luta entre o Bem e o mal
ecoam entre as paredes e saem pelas brechas
para receber o Sol
é a hora em que o coração da gente se aquece
e a lágrima fina e quente não finge nada...
as rugas expostas são quais compêndios
vigílias e reverências ao Sublime, ao Profundo
na madrugada calada e fria, quando ainda é escuro
as vozes como que em luta entre o Bem e o mal
ecoam entre as paredes e saem pelas brechas
para receber o Sol
é a hora em que o coração da gente se aquece
e a lágrima fina e quente não finge nada...
27 agosto 2012
poderoso
O carroceiro veio em seu cavalo faceiro
'bom dia, só alegria?'
'cavalão, né?'
'é, se chama titan'
'poderoso, em'
'poderoso é Deus', disse o dono do titan...
'bom dia, só alegria?'
'cavalão, né?'
'é, se chama titan'
'poderoso, em'
'poderoso é Deus', disse o dono do titan...
15 agosto 2012
dentro
nasceu para correr, sabia
corria, corria, corria
atrás de quem já tinha companhia
olhava longe, nem vulto via
voltava meio arredio
na face o vento frio
e lá no poço, um vazio..
corria, corria, corria
atrás de quem já tinha companhia
olhava longe, nem vulto via
voltava meio arredio
na face o vento frio
e lá no poço, um vazio..
14 agosto 2012
sinal
a música não era alegre nem triste
talvez sem medida ou no intermédio
no ar havia um dedo em riste
dentro
uma alma como nuvem fina desfiava
o peito pulsante pedia remédio
é que o sol desceu sem se mostrar
no alto um avião dava sinal do fugitivo
tudo é a ponta de um mistério
sim, estava escrito, lá estava o motivo...
talvez sem medida ou no intermédio
no ar havia um dedo em riste
dentro
uma alma como nuvem fina desfiava
o peito pulsante pedia remédio
é que o sol desceu sem se mostrar
no alto um avião dava sinal do fugitivo
tudo é a ponta de um mistério
sim, estava escrito, lá estava o motivo...
07 agosto 2012
presença
inquietude vigilante
quando a face almeja o travesseiro
e lá do profundo da alma um poema nascendo
possessão, entidade poética
construo uma aldeia imaginária
uma voz vinda de lugar nenhum ressoa
então me dou conta: é em vão
como invocar tua presença
se estás em toda parte
e preenches todos os espaços de minha existência?
quando a face almeja o travesseiro
e lá do profundo da alma um poema nascendo
possessão, entidade poética
construo uma aldeia imaginária
uma voz vinda de lugar nenhum ressoa
então me dou conta: é em vão
como invocar tua presença
se estás em toda parte
e preenches todos os espaços de minha existência?
06 agosto 2012
livre
lamentava do abandono
havia tempos sentia-se cão sem dono
um dia resolveu ser ela
sempre ficava olhando da janela
naquele dia abriu a porta e saiu
nem levou malas, partiu
encontrou o pão que mata toda a fome
não sentiu mais sede, nem vergonha do próprio nome...
havia tempos sentia-se cão sem dono
um dia resolveu ser ela
sempre ficava olhando da janela
naquele dia abriu a porta e saiu
nem levou malas, partiu
encontrou o pão que mata toda a fome
não sentiu mais sede, nem vergonha do próprio nome...
05 agosto 2012
mira
o sol se despede
na hora em que a gente colo pede
no peito o domingo pulsa
e a saudade repulsa
o vácuo sem nome
o soco no abdome
então se respira, respira, respira
e do fundo do ser o sentido mira
uma prece se eleva
a noite a luz leva...
na hora em que a gente colo pede
no peito o domingo pulsa
e a saudade repulsa
o vácuo sem nome
o soco no abdome
então se respira, respira, respira
e do fundo do ser o sentido mira
uma prece se eleva
a noite a luz leva...
04 agosto 2012
caco
o amor é pão
ainda que em nacos
farelos, cacos
o amor é líquido
vinho e sangue
nas veias
última ceia...
ainda que em nacos
farelos, cacos
o amor é líquido
vinho e sangue
nas veias
última ceia...
02 agosto 2012
31 julho 2012
simples
nem ambicionavam riqueza
queriam apenas sombra e água frescas
fogo na panela
um cão amigo de guarda
ou mesmo um alpendre simples
e rede no armador, ah, bastava!
isso traduzia dignidade, amor
a filharada lá fora inventava brinquedo no outão...
queriam apenas sombra e água frescas
fogo na panela
um cão amigo de guarda
ou mesmo um alpendre simples
e rede no armador, ah, bastava!
isso traduzia dignidade, amor
a filharada lá fora inventava brinquedo no outão...
30 julho 2012
dança
metamorfoseava-se em gelo seco
o corpo feito fios de fumaça
misturava-se à música sem letra
girava, girava, girava como pião
a fumaça era o desenho da vida dissolvente
os olhos acesos eram jogos de luzes
relampejavam, relampejavam, relampejavam
a bebida quente descia e subia
o mundo da vida na fumaça sumia...
o corpo feito fios de fumaça
misturava-se à música sem letra
girava, girava, girava como pião
a fumaça era o desenho da vida dissolvente
os olhos acesos eram jogos de luzes
relampejavam, relampejavam, relampejavam
a bebida quente descia e subia
o mundo da vida na fumaça sumia...
29 julho 2012
de coração
disse de coração aberto
que seguiria a receita
respirar, expirar, respirar
mas o ar lhe falta
o pulmão se zanga
feito crise asmática
o ar se esvai
e o sentido derrete, escorre
feito saco plástico no fogo
sem nada dizer
cala, recolhe-se nas mãos
nas mãos do nada
esperando que o ar volte...
que seguiria a receita
respirar, expirar, respirar
mas o ar lhe falta
o pulmão se zanga
feito crise asmática
o ar se esvai
e o sentido derrete, escorre
feito saco plástico no fogo
sem nada dizer
cala, recolhe-se nas mãos
nas mãos do nada
esperando que o ar volte...
28 julho 2012
busca
no fundo do quarto uma réstia de lua
através da telha removida pelo gato
lá fora os grilos lamentam no mato
então me desintegro à procura sua...
através da telha removida pelo gato
lá fora os grilos lamentam no mato
então me desintegro à procura sua...
27 julho 2012
desmensura
se for toque frio
não causar arrepio
ou uma página única
se não tiver cheiro
não for verdadeiro
sei não
nem quero a verdade certa
desde que não minta no riso
nem beije feito Judas
amar é peito aberto
sangue e água correntes...
não causar arrepio
ou uma página única
se não tiver cheiro
não for verdadeiro
sei não
nem quero a verdade certa
desde que não minta no riso
nem beije feito Judas
amar é peito aberto
sangue e água correntes...
25 julho 2012
gotas
olhava para o céu
intenso
só o céu era assim
lá no alto de estrelas feito enxame
no peito esquerdo
o lado tenso
quadro de vexame
onde as lembranças desfiavam
feito nuvens tímidas
os olhos zonzos de água
olhavam aguados
fingiu ser argueiro
ou gotas de colírio
era saudade mesmo...
intenso
só o céu era assim
lá no alto de estrelas feito enxame
no peito esquerdo
o lado tenso
quadro de vexame
onde as lembranças desfiavam
feito nuvens tímidas
os olhos zonzos de água
olhavam aguados
fingiu ser argueiro
ou gotas de colírio
era saudade mesmo...
22 julho 2012
cena
A música era como uma gota d'água fina
e a chuva na telha, canção de infância
o sertão amanhecia em coral...
e a chuva na telha, canção de infância
o sertão amanhecia em coral...
11 julho 2012
falta
não há verso hoje
há jejum de palavra
do pão sem preço
o pão dormido morfou
dormiu e não acordou
na ruga da testa
há silêncio expresso...
há jejum de palavra
do pão sem preço
o pão dormido morfou
dormiu e não acordou
na ruga da testa
há silêncio expresso...
10 julho 2012
devaneio
há sempre uma desculpa
nos lábios enganadores
e a culpa feito dedo em riste
no coração triste
mentiras tornadas verdades
e na face a ruga afunda a idade
na garganta a sobra, o sobejo ou pigarro da perda
o tempo escrito em pedra rústica
água mole, vento duro
e a carne viva pulsa na parte esquerda
o soluço é acústica
música sem nome...
nos lábios enganadores
e a culpa feito dedo em riste
no coração triste
mentiras tornadas verdades
e na face a ruga afunda a idade
na garganta a sobra, o sobejo ou pigarro da perda
o tempo escrito em pedra rústica
água mole, vento duro
e a carne viva pulsa na parte esquerda
o soluço é acústica
música sem nome...
09 julho 2012
lua usada
Houve um tempo em que brincava de inventar verso
da janela apreciava a nuvem leve
ela levada pelo vento
toda entregue, vulnerável
hoje aqui de outra tela
miro o sábado caseiro
a lua usada aparece
passeia suave lá longe
entro em mim sozinho...
da janela apreciava a nuvem leve
ela levada pelo vento
toda entregue, vulnerável
hoje aqui de outra tela
miro o sábado caseiro
a lua usada aparece
passeia suave lá longe
entro em mim sozinho...
07 julho 2012
acordar
amava, amava, amava
inocente
havia tempo que ficava dormente
noite e dia
tipo doente
mil, mil, mil
ninguém a viu
certo dia acordou
do amor
e correu, correu, correu
atrás do sol que nascia...
inocente
havia tempo que ficava dormente
noite e dia
tipo doente
mil, mil, mil
ninguém a viu
certo dia acordou
do amor
e correu, correu, correu
atrás do sol que nascia...
04 julho 2012
travessia
Feito Augusto Matraga de Guimarães Rosa
Sedento por sua hora, sua vez
Sigo em travessia
Como um rio
Que deseja desaguar no mar...
Sedento por sua hora, sua vez
Sigo em travessia
Como um rio
Que deseja desaguar no mar...
29 junho 2012
dentro
tinha tudo
casa, carro, dinheiro
e cheiro bom
mas a vida uma migalha
áspera, sem veludo
o amor sempre ia embora
antes mesmo de chegar
sentia-se uma falha
todo dia esperava a melhora
reclamava, rezava
e chorava em segredo
mas a ninguém revelava o enredo
só o espelho sabia
o rio corria lá fora
e dentro água parada...
casa, carro, dinheiro
e cheiro bom
mas a vida uma migalha
áspera, sem veludo
o amor sempre ia embora
antes mesmo de chegar
sentia-se uma falha
todo dia esperava a melhora
reclamava, rezava
e chorava em segredo
mas a ninguém revelava o enredo
só o espelho sabia
o rio corria lá fora
e dentro água parada...
26 junho 2012
sede
sede do amor que nos ama
daquele que toma a iniciativa de amar
sede do amor eterno
sem cobrar ou reclamar
sede do céu na terra
qual onda beijando areia
à beira-mar
sede do amor que dure...
paixão
disse balbuciando
feito um gemido abafado
ou ciúme encravado
qual o espinho na carne
igual a cisco no olho
como a pimenta do molho
ou o corisco sem trovão
fecha então os olhos
respira, respira, respira
tuc-tuc-tuc coração
evita o que maltrata
e o profundo da vida mira...
feito um gemido abafado
ou ciúme encravado
qual o espinho na carne
igual a cisco no olho
como a pimenta do molho
ou o corisco sem trovão
fecha então os olhos
respira, respira, respira
tuc-tuc-tuc coração
evita o que maltrata
e o profundo da vida mira...
25 junho 2012
vésperas
o sol se despede
raio de olhar algo pede
elevo preces e a noite desce
peço sentido e vida
a garganta pigarra muda
e a multidão passa a pé enxuto no semáforo
o sol dá um sinal feito pólvora, fósforo
é o adeus / uma nuvem: o sinal de Deus...
raio de olhar algo pede
elevo preces e a noite desce
peço sentido e vida
a garganta pigarra muda
e a multidão passa a pé enxuto no semáforo
o sol dá um sinal feito pólvora, fósforo
é o adeus / uma nuvem: o sinal de Deus...
22 junho 2012
imbróglio
abriu as janelas da alma
coisa rara, muito rara
sentia-se lama
uma espécie de Geni
pecadora pública
sem direito a absolvição
qual personagem de Kafka
em labirinto, confusão
embora envolta no manto da justiça
internamente a mancha remexia
lá no escondido, onde só quem sente vê
então oscilava
ora presença, ora ausência de sentido...
coisa rara, muito rara
sentia-se lama
uma espécie de Geni
pecadora pública
sem direito a absolvição
qual personagem de Kafka
em labirinto, confusão
embora envolta no manto da justiça
internamente a mancha remexia
lá no escondido, onde só quem sente vê
então oscilava
ora presença, ora ausência de sentido...
21 junho 2012
amor
pode ser só água na boca
olhar sem pretensão
somente rima do "ão"
um toque em parede oca
ou mesmo arte kitsch
seja o que for
vá onde for
faça o que for
leve e traga amor
capriche...
olhar sem pretensão
somente rima do "ão"
um toque em parede oca
ou mesmo arte kitsch
seja o que for
vá onde for
faça o que for
leve e traga amor
capriche...
20 junho 2012
poeta
como refém da dor
não cabia no mundo
como poeta torto
nasceu pra rimador
acariciava as palavras
até as palavras serpentes
tinha poucas falas
no meio da noite
paria versos
e no clarão do dia
se mostrava pelo averso...
não cabia no mundo
como poeta torto
nasceu pra rimador
acariciava as palavras
até as palavras serpentes
tinha poucas falas
no meio da noite
paria versos
e no clarão do dia
se mostrava pelo averso...
14 junho 2012
tempo
dia desses uma senhora idosa e de rosto cansado
atravessava a rua, no seu ritmo
ocorre que deixou impacientes alguns que iam de carro
um povo sábio
faria reverência para uma pessoa idosa
todos os carros parariam, todas as máquinas
a rua seria toda da pessoa idosa
e ninguém se atrasaria
porque o tempo
ah, o tempo é da pessoa idosa...
atravessava a rua, no seu ritmo
ocorre que deixou impacientes alguns que iam de carro
um povo sábio
faria reverência para uma pessoa idosa
todos os carros parariam, todas as máquinas
a rua seria toda da pessoa idosa
e ninguém se atrasaria
porque o tempo
ah, o tempo é da pessoa idosa...
12 junho 2012
metade
a vida nua e desalmada não lhe bastava
certa vez um raio de olhar
vindo de outro lugar totalmente outro
alcançou-lhe a alma
foi num dia sem promessa
quando a hora parecia calma
de repente: eureka
qual arquimedes saiu gritando
e os normais do mundo dizem: virou louco
na verdade a vida era pouco...
certa vez um raio de olhar
vindo de outro lugar totalmente outro
alcançou-lhe a alma
foi num dia sem promessa
quando a hora parecia calma
de repente: eureka
qual arquimedes saiu gritando
e os normais do mundo dizem: virou louco
na verdade a vida era pouco...
faróis
os olhos brilhavam
tal num encontro de dois apaixonados
dois faróis vaga-lumes
no fundo da sala um som de piano
penetrante, penetrante, penetrante
e uma voz suave ecoava
amor e mágoa
um misto assim só podia ser humano
demasiado humano
colou a face no travesseiro
acordara
era apenas um sonho...
tal num encontro de dois apaixonados
dois faróis vaga-lumes
no fundo da sala um som de piano
penetrante, penetrante, penetrante
e uma voz suave ecoava
amor e mágoa
um misto assim só podia ser humano
demasiado humano
colou a face no travesseiro
acordara
era apenas um sonho...
11 junho 2012
missa
um bispo ia presidir a eucaristia numa imponente catedral
ao subir a escadaria o vento sacudia suas vestes episcopais
na escadaria havia gente em situação de rua demais
humanos jogados na calçada, fora do convívio social
o bispo sentiu um aperto no peito e pensou:
como celebrarei a eucaristia lá dentro
se as hóstias estão todas espalhadas na calçada...
ao subir a escadaria o vento sacudia suas vestes episcopais
na escadaria havia gente em situação de rua demais
humanos jogados na calçada, fora do convívio social
o bispo sentiu um aperto no peito e pensou:
como celebrarei a eucaristia lá dentro
se as hóstias estão todas espalhadas na calçada...
07 junho 2012
corpo e sangue
o corpo franzino
quase nu
olhar aguado
olhinhos turvos
entre a tênue curva
onde a vida é real
vau de dois riachinhos
e as carnes cansadas
da lida sem registro
subterrâneo véu da amargura
noite escura em pleno dia
ao redor
surdez do mundo
ninguém de si tenha dó
é um favor
sabe da dor
corpo e sangue...
quase nu
olhar aguado
olhinhos turvos
entre a tênue curva
onde a vida é real
vau de dois riachinhos
e as carnes cansadas
da lida sem registro
subterrâneo véu da amargura
noite escura em pleno dia
ao redor
surdez do mundo
ninguém de si tenha dó
é um favor
sabe da dor
corpo e sangue...
desmundo
havia dia que ela morria
ninguém a percebia
mordendo vaga o dedo mindinho
o mundo suspendia
com o olhar nadando no vácuo
o nada absorvia
o nada...
ninguém a percebia
mordendo vaga o dedo mindinho
o mundo suspendia
com o olhar nadando no vácuo
o nada absorvia
o nada...
05 junho 2012
imaginação
se o céu azul
que aprecio da janela
não é azul
e nem é céu
não me importa
importa-me imaginar
inundar-me deste azul profundo
sentir-me parte do mundo
se o que vejo e sinto não é real
eu posso torná-lo palpável
isso é dádiva...
que aprecio da janela
não é azul
e nem é céu
não me importa
importa-me imaginar
inundar-me deste azul profundo
sentir-me parte do mundo
se o que vejo e sinto não é real
eu posso torná-lo palpável
isso é dádiva...
02 junho 2012
aprender
aprender é devagar
juntar letras e dizer "ma-ma", "pa-pa"
exige esforço e sofisticação mental
quando conseguimos facilmente dizer mamãe, papai
foi preciso antes tempo e exercício
aprender é devagar
devagar...
juntar letras e dizer "ma-ma", "pa-pa"
exige esforço e sofisticação mental
quando conseguimos facilmente dizer mamãe, papai
foi preciso antes tempo e exercício
aprender é devagar
devagar...
28 maio 2012
espírito
o alento
o vento, fogo ou brisa
musa, profetisa ou profeta louco
sussurra aos ouvidos
acalenta as gargantas roucas
espírito indomável
poesia do mundo
dá-nos beleza
na alegria ou na tristeza...
o vento, fogo ou brisa
musa, profetisa ou profeta louco
sussurra aos ouvidos
acalenta as gargantas roucas
espírito indomável
poesia do mundo
dá-nos beleza
na alegria ou na tristeza...
24 maio 2012
sede
sede de palavra
aquela que diz “haja luz”
sede de palavra
aquele ato linguístico
que existe antes de qualquer tempo...
aquela que diz “haja luz”
sede de palavra
aquele ato linguístico
que existe antes de qualquer tempo...
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