14 dezembro 2010
13 novembro 2010
relâmpago
a luz de dentro é mais forte que a luz de fora
meus olhos querem ver a luz de dentro
resisto!
carga elétrica de seus olhos
tenho medo
e tal quando era criança
caio no chão após o relâmpago
e ponho as mãos nos ouvidos
para fugir do barulho do trovão
e o coração acelera
a luz é de dentro
minha salvação
ou perdição...
meus olhos querem ver a luz de dentro
resisto!
carga elétrica de seus olhos
tenho medo
e tal quando era criança
caio no chão após o relâmpago
e ponho as mãos nos ouvidos
para fugir do barulho do trovão
e o coração acelera
a luz é de dentro
minha salvação
ou perdição...
09 novembro 2010
pessoas grandes
as pessoas grandes
são mesmo complicadas
elas cativam pessoas
e chega o dia em que
simplesmente dizem:
não quero mais a sua amizade
um mundo assim
descartável
é de morte, de dor, de desespero...
são mesmo complicadas
elas cativam pessoas
e chega o dia em que
simplesmente dizem:
não quero mais a sua amizade
um mundo assim
descartável
é de morte, de dor, de desespero...
08 novembro 2010
despossuído
nu cheguei aqui
nunca tive nada nem terei
posso até me apegar a coisas e pessoas
mas nada será meu
um dia até o amor
aquele que se disse eterno
esvai-se
trai
acaba
some
enterra-se...
02 novembro 2010
UM DIA DE MEMÓRIA
O sol nasceu por trás da serra. Da janela do quarto se podia vê-lo inteiro, feito uma tocha vermelha. O dia nascia assim: intenso e convidativo. Não havia como continuar na cama. Era um dia vivo, desses que a gente diz a si mesmo: como é bom estar vivo!
Levantou. Ainda não muito desperto. Naquela fase entre o sono e o despertar. Espreguiçou-se. Abriu bem os olhos, e diante de si estava uma foto.
Foto de família. Aproximou-se como se a estivesse vendo pela primeira vez. Como numa cena de filme ou de novela, seu pensamento o transportou para a infância. Estava lá, brincando no grande terreiro de barro vermelho da casa dos avós.
Seus olhos brilhavam e as pupilas nadavam nas lembranças. Viu nas recordações o vovô Zuza. Ele sentado em sua cadeira, olhando o nascente. Fazia isso com frequência, ao final da tarde, quando na frente da casa fazia sombra e o sol declinava do outro lado. Como vovô deve ter sofrido quando teve de deixar aquele espaço sagrado para morar na cidade. Esse sofrimento deve ter apressado sua morte.
Certamente não havia necessidade da construção daquele açude. Foi projeto de vingança do prefeito insensível à história do povo. A água veio e cobriu tudo das famílias do povoado. Árvores centenárias, entre as quais tantas mangueiras frondosas, e casas antigas. Mais que isso, a água cobriu a memória. Sem memória o povo não tem vida.
Diante da foto, lembrou-se que vovô gostava muito de ler Os sertões, obra que tornou famosa a frase: “O sertanejo é antes de tudo um forte”. É também lá que se narra a destruição de Canudos, povo de esperança, que acreditava no céu já aqui na terra. Os poderosos se encarregaram de construir uma grande barragem para matar a memória de luta e resistência daquela gente.
Voltou das lembranças e se viu de novo no quarto. Olhou para o calendário: dia de finados. Sentiu certo aperto no peito. Mas pensou: “Não é dia de tristeza, é dia de memória pela vida”.
Preparou-se para viver bem o dia. Afinal o amanhecer estava lindo e o céu, de um azul intenso. Alegrava a alma. Prometeu fazer memória da vida dos que já não estão neste mundo e esforçar-se para que os projetos de morte não destruam a memória viva dos pobres. E disse baixinho: “Com a memória a vida vence a morte”. Abriu a porta e saiu para abraçar a vida que se oferecia lá fora.
Levantou. Ainda não muito desperto. Naquela fase entre o sono e o despertar. Espreguiçou-se. Abriu bem os olhos, e diante de si estava uma foto.
Foto de família. Aproximou-se como se a estivesse vendo pela primeira vez. Como numa cena de filme ou de novela, seu pensamento o transportou para a infância. Estava lá, brincando no grande terreiro de barro vermelho da casa dos avós.
Seus olhos brilhavam e as pupilas nadavam nas lembranças. Viu nas recordações o vovô Zuza. Ele sentado em sua cadeira, olhando o nascente. Fazia isso com frequência, ao final da tarde, quando na frente da casa fazia sombra e o sol declinava do outro lado. Como vovô deve ter sofrido quando teve de deixar aquele espaço sagrado para morar na cidade. Esse sofrimento deve ter apressado sua morte.
Certamente não havia necessidade da construção daquele açude. Foi projeto de vingança do prefeito insensível à história do povo. A água veio e cobriu tudo das famílias do povoado. Árvores centenárias, entre as quais tantas mangueiras frondosas, e casas antigas. Mais que isso, a água cobriu a memória. Sem memória o povo não tem vida.
Diante da foto, lembrou-se que vovô gostava muito de ler Os sertões, obra que tornou famosa a frase: “O sertanejo é antes de tudo um forte”. É também lá que se narra a destruição de Canudos, povo de esperança, que acreditava no céu já aqui na terra. Os poderosos se encarregaram de construir uma grande barragem para matar a memória de luta e resistência daquela gente.
Voltou das lembranças e se viu de novo no quarto. Olhou para o calendário: dia de finados. Sentiu certo aperto no peito. Mas pensou: “Não é dia de tristeza, é dia de memória pela vida”.
Preparou-se para viver bem o dia. Afinal o amanhecer estava lindo e o céu, de um azul intenso. Alegrava a alma. Prometeu fazer memória da vida dos que já não estão neste mundo e esforçar-se para que os projetos de morte não destruam a memória viva dos pobres. E disse baixinho: “Com a memória a vida vence a morte”. Abriu a porta e saiu para abraçar a vida que se oferecia lá fora.
31 outubro 2010
meu querer
quero as tardes de sábado
aquelas em que o mundo girava
na ponta do pião
pura invenção da mente
criação imaginária de outro mundo
mundo meu
nada verdade
eu não queria a verdade
hoje neste afã pela verdade
eu não quero as tardes de domingo
em que minha cabeça gira feito pião
e meu ser congela em solidão...
aquelas em que o mundo girava
na ponta do pião
pura invenção da mente
criação imaginária de outro mundo
mundo meu
nada verdade
eu não queria a verdade
hoje neste afã pela verdade
eu não quero as tardes de domingo
em que minha cabeça gira feito pião
e meu ser congela em solidão...
25 outubro 2010
vivo
se quero ser os dedos ou o piano
22 outubro 2010
ausência
a poesia é um modo de tornar a vida suportável
vem
musa minha
volta logo
vem hoje
nesta noite de lume afiado
lua cheia de outubro...
vem
musa minha
volta logo
vem hoje
nesta noite de lume afiado
lua cheia de outubro...
17 outubro 2010
16 outubro 2010
12 outubro 2010
vão
ele disse baixinho
quando já era madrugada
e o clarão demorava
eu acho que estou oco
ou quase morto
se eu me encher de graças
ou ressuscitar
eu grito
eu volto...
quando já era madrugada
e o clarão demorava
eu acho que estou oco
ou quase morto
se eu me encher de graças
ou ressuscitar
eu grito
eu volto...
01 outubro 2010
cortinas
um pouco deste gosto
de tristeza
quando seu olhar
mira o nada
seus lábios disfarçam um sorriso
e seus olhos acenam o não-ser
sinto o cheiro do prazer derramado
e a descarga arrepiando meus ouvidos
a janela de minha alma
quer abrir todas as cortinas...
de tristeza
quando seu olhar
mira o nada
seus lábios disfarçam um sorriso
e seus olhos acenam o não-ser
sinto o cheiro do prazer derramado
e a descarga arrepiando meus ouvidos
a janela de minha alma
quer abrir todas as cortinas...
27 setembro 2010
17 setembro 2010
lume
o lume frio e cortante do espelho
tal uma lâmina afiada
invadiu minha alma
de tão afiada
nem ouvi o corte
apenas senti a dor
dor de ver tudo
e engasgado
não poder dizer nada...
09 setembro 2010
antes de ser
saudades do que nem chegou a ser
do olhar azul
da cor dos olhos de vovó
saudades do que quase foi
dos olhos de cabrita
ou cabrito
não sei
saudades como amêndoas
daqueles olhos que pedem
e escondem uma luz
que poucos percebem
fico aqui por detrás da tela
tela deste outro mundo...
do olhar azul
da cor dos olhos de vovó
saudades do que quase foi
dos olhos de cabrita
ou cabrito
não sei
saudades como amêndoas
daqueles olhos que pedem
e escondem uma luz
que poucos percebem
fico aqui por detrás da tela
tela deste outro mundo...
28 agosto 2010
aspersor
deixa o aspersor gotejar
assim como gotejavam
seus olhos
naquela noite de luar
deixa molhar...
assim como gotejavam
seus olhos
naquela noite de luar
deixa molhar...
24 agosto 2010
recôndito
de lá para cá
minha vida virou
como eu queria
naquela hora fria
ter me despido
e com meu fino terno
coberto seu corpo trêmulo
de lá para cá
minha vida virou
bato no peito
e quantas vezes choro
no silêncio de meu poço...
11 agosto 2010
oferta
foi a você
que entreguei minha existência
me prostrei diante do altar
e num ritual de incensos e lágrimas
disse a palavra do livro
com a voz do coração
pronunciei o juramento
e de lá para cá
minha vida quer ser
configurada na sua
eu já sabia do cálice
e das espessas gotas de suor
de sangue
por isso
todo dia
no altar do meu coração
peço a renoção do entusiasmo
e o gozo da paixão primeira
e na calada da noite
ou no clarão do dia
desejo estar na sua presença
toma minha mão
e que nosso amor
não esfri...
que entreguei minha existência
me prostrei diante do altar
e num ritual de incensos e lágrimas
disse a palavra do livro
com a voz do coração
pronunciei o juramento
e de lá para cá
minha vida quer ser
configurada na sua
eu já sabia do cálice
e das espessas gotas de suor
de sangue
por isso
todo dia
no altar do meu coração
peço a renoção do entusiasmo
e o gozo da paixão primeira
e na calada da noite
ou no clarão do dia
desejo estar na sua presença
toma minha mão
e que nosso amor
não esfri...
09 agosto 2010
chão de estrelas
quando o sol se escondia
e a noite descia
olhei para o céu
e pedi
deixa que eu pise
o chão de estrelas
e na calada da noite
a brisa me sopre segredos
e quanto aos medos
eu os venço pela fé
deixa que eu pise
o chão de estrelas
com a mesma paz
que eu pisava o chão do sertão
deixa que eu pise
o chão de estrelas
e farei vigília
pela a aurora
quando o sol voltar
eu desço do chão de estrelas
e piso o chão de concreto
mas hoje
deixa que eu pise
o chão de estrelas...
e a noite descia
olhei para o céu
e pedi
deixa que eu pise
o chão de estrelas
e na calada da noite
a brisa me sopre segredos
e quanto aos medos
eu os venço pela fé
deixa que eu pise
o chão de estrelas
com a mesma paz
que eu pisava o chão do sertão
deixa que eu pise
o chão de estrelas
e farei vigília
pela a aurora
quando o sol voltar
eu desço do chão de estrelas
e piso o chão de concreto
mas hoje
deixa que eu pise
o chão de estrelas...
08 agosto 2010
espera
hoje ouvi o canto da sabiá
é prenúncio de bom tempo
Deus queira
mas por enquanto
me deixa aqui no meu canto
quieto
ao som da portugal
deixa que eu madrugue
e quando tudo silenciar
eu tal uma coruja insone
colo os olhos na janela
e sem fechar os olhos
aguardo a luz do novo dia...
é prenúncio de bom tempo
Deus queira
mas por enquanto
me deixa aqui no meu canto
quieto
ao som da portugal
deixa que eu madrugue
e quando tudo silenciar
eu tal uma coruja insone
colo os olhos na janela
e sem fechar os olhos
aguardo a luz do novo dia...
07 agosto 2010
só você
estava quase escuro
e por trás do muro
um barulho como que gemido
o gemido era meu medo
me arrepei
e com olhar tímido
aquele olhar carente
de quem pede ajuda
pensei em você
toma minha mão
segura-a suavemente
e me tira deste medo desacompanhado
só você pode me libertar
deste gemido escudido
espremido
desta dor sentida
só você pode derrubar o muro
que me tira a luz
só você pode me devolver a paz
paz perdida
naquel dia
em que meu olhar
encontrou você em meio a multidão
segura minha mão...
e por trás do muro
um barulho como que gemido
o gemido era meu medo
me arrepei
e com olhar tímido
aquele olhar carente
de quem pede ajuda
pensei em você
toma minha mão
segura-a suavemente
e me tira deste medo desacompanhado
só você pode me libertar
deste gemido escudido
espremido
desta dor sentida
só você pode derrubar o muro
que me tira a luz
só você pode me devolver a paz
paz perdida
naquel dia
em que meu olhar
encontrou você em meio a multidão
segura minha mão...
05 agosto 2010
existencial
não sei dizer bem o que sinto agora
nem sei mandar embora
o que me alegra e me apovora
paradoxo sou...
nem sei mandar embora
o que me alegra e me apovora
paradoxo sou...
29 julho 2010
o totalmente outro
tal um primitivo diante da divindade
eu não consigo olhar nos seus olhos
sua face me estremece
sua voz me paralisa
por outro lado
não suporto sua ausência
vivo entre o assombro e a dependência
é inútil fugir
minhas entranhas pressente seus passos
conto as horas
não consigo ir embora
fecho e abro os olhos
de repente a garganta engasga
e apenas me entrego...
eu não consigo olhar nos seus olhos
sua face me estremece
sua voz me paralisa
por outro lado
não suporto sua ausência
vivo entre o assombro e a dependência
é inútil fugir
minhas entranhas pressente seus passos
conto as horas
não consigo ir embora
fecho e abro os olhos
de repente a garganta engasga
e apenas me entrego...
28 julho 2010
desilusão
nada mais triste
que mendigar amor
nada mais dolorido
que dois olhos carentes
a pedir favor
ninguém merece a dor
mas dela todos temos parte
do nascer ao morrer
amar é padecer...
que mendigar amor
nada mais dolorido
que dois olhos carentes
a pedir favor
ninguém merece a dor
mas dela todos temos parte
do nascer ao morrer
amar é padecer...
26 julho 2010
ambulante
entrou no ônibus
sentou na cadeira mais alta
o vento que soprova da janela
era brisa triste
vez e outra
o sol aparecia entre os prédios
e o céu de um azul intenso
falava de um belo horizonte
lá fora
a tarde dominical
declinava serena e melancólica
o ônibus, porém,
e os passageiros
eram solidão ambulante...
sentou na cadeira mais alta
o vento que soprova da janela
era brisa triste
vez e outra
o sol aparecia entre os prédios
e o céu de um azul intenso
falava de um belo horizonte
lá fora
a tarde dominical
declinava serena e melancólica
o ônibus, porém,
e os passageiros
eram solidão ambulante...
24 julho 2010
hoje
dia lindo em BH
o céu tá limpo, azul
o sol convidativo
o vento sopra em minha janela
e em mim uma vontade de gritar em direção à portugal...
o céu tá limpo, azul
o sol convidativo
o vento sopra em minha janela
e em mim uma vontade de gritar em direção à portugal...
21 julho 2010
20 julho 2010
17 julho 2010
16 julho 2010
sem casa em mim
quis ser livre
mais a liberdade sempre voa
nunca pensou em fortuna
e sempre viveu no aperto
mas nunca à-toa
evitou
o gesto da furtilidade
e a tentação do desmedido
mas tateia o sem sentido
o sem espaço
o sem fundo
no que se chama mundo...
mais a liberdade sempre voa
nunca pensou em fortuna
e sempre viveu no aperto
mas nunca à-toa
evitou
o gesto da furtilidade
e a tentação do desmedido
mas tateia o sem sentido
o sem espaço
o sem fundo
no que se chama mundo...
14 julho 2010
escolha
sentado no banco
com a lágrima presa
você chegou
foi quando
libertei a lágrima
ela jorrou
mas a dor
não
ela contiua presa...
com a lágrima presa
você chegou
foi quando
libertei a lágrima
ela jorrou
mas a dor
não
ela contiua presa...
10 julho 2010
testamento
enquanto eu vivo for
quero palavras grávidas
quando eu morrer
por favor
nada de discurso estéril...
quero palavras grávidas
quando eu morrer
por favor
nada de discurso estéril...
06 julho 2010
o "céu de suely"
é o sem-destino
é a vontade de ser
e o não-ser
é o não caber dentro da gente mesmo
é a saudade do que nunca foi
é a dor no mais fundo da alma...
é a vontade de ser
e o não-ser
é o não caber dentro da gente mesmo
é a saudade do que nunca foi
é a dor no mais fundo da alma...
04 julho 2010
eira
aprendeu a estufar o peito
a levantar a cabeça
e a enfrentar o medo
aprendeu que a vida não é
um livro aberto
é segredo
aprendeu que a realidade
é também ilusão
e que a razão
é confusa
aprendeu a calar
para humilhar a arrogância
e terminou o dia
sem comer
sem ler
nem correr...
a levantar a cabeça
e a enfrentar o medo
aprendeu que a vida não é
um livro aberto
é segredo
aprendeu que a realidade
é também ilusão
e que a razão
é confusa
aprendeu a calar
para humilhar a arrogância
e terminou o dia
sem comer
sem ler
nem correr...
29 junho 2010
fragmento
- oh, fii, cê tirou foto da viagem a são paulo?
- não, tio, eu tava triste. a vó adoeceu...
- não, tio, eu tava triste. a vó adoeceu...
27 junho 2010
desnudo
do pliar da igreja
olhei como quem foge
procurei o céu
estava azul
tão azul
o céu desnudo
e eu mudo
e surdo
num átimo
não ouvi o padre
não pedi perdão
não elevei glórias
não escutei nada
e nem disse amém...
olhei como quem foge
procurei o céu
estava azul
tão azul
o céu desnudo
e eu mudo
e surdo
num átimo
não ouvi o padre
não pedi perdão
não elevei glórias
não escutei nada
e nem disse amém...
21 junho 2010
excêntrico
respeito é bom
mas você me marcou no peito
com a cicatriz suspeita
ambos entranhos
entre a lucidez e a cegueira
dentes de leite e de sangue
como objeto qualquer
o pigarro foi a voz da recusa
o nó na garganta
a dor do desprezo
salivei para não vomitar
o gosto de não-ser...
mas você me marcou no peito
com a cicatriz suspeita
ambos entranhos
entre a lucidez e a cegueira
dentes de leite e de sangue
como objeto qualquer
o pigarro foi a voz da recusa
o nó na garganta
a dor do desprezo
salivei para não vomitar
o gosto de não-ser...
17 junho 2010
vestígio
no dia em que meus olhos
encontraram os seus
o relógio quebou
caiu de cara no azulejo
o ponteiro parou
não resisti tanta beleza
de lá para cá rastejo
seus rastros
seu olhar...
encontraram os seus
o relógio quebou
caiu de cara no azulejo
o ponteiro parou
não resisti tanta beleza
de lá para cá rastejo
seus rastros
seu olhar...
16 junho 2010
descartável
que seja asneira
disse que tinha pena das bananeiras
coitadas
depois de um único cacho
são cortadas
jogadas
largadas
até queimadas
mas quem as corta
geralmente pega nódoa
minha camisa está enodoada...
15 junho 2010
abstração
me prostrei
as fumaças rituais
subiram
chorei
entrei em transe
quando fechei os olhos
me vi saindo da grande sala
não soube dizer adeus
parti sem malas
sem rumo
a senhora da cozinha
perguntou o que havia
baixei os olhos
ela sabia
não olhei pra trás
sumi na rua estreita...
as fumaças rituais
subiram
chorei
entrei em transe
quando fechei os olhos
me vi saindo da grande sala
não soube dizer adeus
parti sem malas
sem rumo
a senhora da cozinha
perguntou o que havia
baixei os olhos
ela sabia
não olhei pra trás
sumi na rua estreita...
09 junho 2010
dias
na hora em que a terra sumir
dos pés
na hora em que tudo for esquecimento
deslocamento
na hora em que a gente é nu
na multidão
na hora em que a dor aperta
no peito
na hora em que nada parece
ter jeito
na hora
existência...
dos pés
na hora em que tudo for esquecimento
deslocamento
na hora em que a gente é nu
na multidão
na hora em que a dor aperta
no peito
na hora em que nada parece
ter jeito
na hora
existência...
31 maio 2010
09 maio 2010
07 maio 2010
raios
seu olhar derrete minha montanha
são dois raios que me partem ao meio
às vezes
fujo de sua presença
para não desfalecer
noutras vezes
corro atrás de você
porque sem sua luz
não sei
não sou
não vivo
não durmo
vagueio qual vira-lata
são dois raios que me partem ao meio
às vezes
fujo de sua presença
para não desfalecer
noutras vezes
corro atrás de você
porque sem sua luz
não sei
não sou
não vivo
não durmo
vagueio qual vira-lata
29 abril 2010
tão perto tão longe
que hoje seja um dia bom
ontem foi tão corrido
peço perdão a lua
preocupado com coisas
não a vi, cheia
hoje, quando levantei
ela estava toda linda
em minha janela...
ontem foi tão corrido
peço perdão a lua
preocupado com coisas
não a vi, cheia
hoje, quando levantei
ela estava toda linda
em minha janela...
21 abril 2010
amanheço
quando a lágrima escorre
não é infelicidade
hoje ela escorre
quando amanheço
a música desconhecida
me invade a alma
ocupa todo o espaço
espaço de mim
ela me domina
me penetra
eu a sinto
o choro vem
silencioso e sentido
olho pela janela
e o sol cor de ouro
me diz que estou vivo...
não é infelicidade
hoje ela escorre
quando amanheço
a música desconhecida
me invade a alma
ocupa todo o espaço
espaço de mim
ela me domina
me penetra
eu a sinto
o choro vem
silencioso e sentido
olho pela janela
e o sol cor de ouro
me diz que estou vivo...
15 abril 2010
anoitecer em mim
a noite é para dentro
é intimidade
saudade do que foi
e do que não chegou a ser
anoitecer em mim
é hora que pede colo
meu coração mole
chora
a noite escura desce
como nuvem espessa
sombra e ventania
meu coração se agita
qual a copa da palmeira
aqui do pátio
olho para o céu
hoje não há estrelas...
é intimidade
saudade do que foi
e do que não chegou a ser
anoitecer em mim
é hora que pede colo
meu coração mole
chora
a noite escura desce
como nuvem espessa
sombra e ventania
meu coração se agita
qual a copa da palmeira
aqui do pátio
olho para o céu
hoje não há estrelas...
12 abril 2010
alto e baixo
daqui
posso ver o céu
limpo, azul
intenso, imenso
ele me faz fugir
fingir
me faz também sentir
sentir que além
da cadeira
da cadeia
da escola
dos conceitos
dos preconceitos
eu posso ser
aquele quase invisível pássaro
que corta o vento
lá em cima
hoje sou apenas
aquele cãozinho perdido
abandonado aqui no pátio
ciscando as primeiras folhas outonais
hoje não quero nada mais...
30 março 2010
olhos de outono
na maca uma senhora
de olhos de outono
o céu estava azul
tão azul que doía
de tão bonito
doía também
ver aquela senhora
ser conduzida na maca
talvez nem volte mais
talvez seus olhos de outono
se paguem...
de olhos de outono
o céu estava azul
tão azul que doía
de tão bonito
doía também
ver aquela senhora
ser conduzida na maca
talvez nem volte mais
talvez seus olhos de outono
se paguem...
28 março 2010
no canto
me deixe aqui
no meu canto
deixa eu curtir o pranto
o manto que me cobre
não é nobre
hoje quero a lua
ela pregou na curtina
e me chama pra rua
não posso
eu gosto
mas não posso
hoje não
me deixe aqui
eu e minha solidão...
no meu canto
deixa eu curtir o pranto
o manto que me cobre
não é nobre
hoje quero a lua
ela pregou na curtina
e me chama pra rua
não posso
eu gosto
mas não posso
hoje não
me deixe aqui
eu e minha solidão...
24 março 2010
18 março 2010
língua
língua pra lamber
língua pra gostar
língua pra arder
língua pra falar
língua sangue
língua bamba
língua pra enrolar
no canto da boca
língua louca
língua pra amar
língua pra chupar
língua pra calar
língua feito cobra
lambe, dobre
língua salobra
língua doce
língua fel
todas as línguas
em harmonia
ou em babel
LíNgUa...
língua pra gostar
língua pra arder
língua pra falar
língua sangue
língua bamba
língua pra enrolar
no canto da boca
língua louca
língua pra amar
língua pra chupar
língua pra calar
língua feito cobra
lambe, dobre
língua salobra
língua doce
língua fel
todas as línguas
em harmonia
ou em babel
LíNgUa...
14 março 2010
anjo chinês
não preciso repetir
que tudo passa
eu sei
você também
vai passar
mas a crueldade é tão grande
...
e a pequena chinesa
jogada no balde
pezinho
pontinha do dedo
apontando no balde
tirada do ventre
jogada no balde
pequeno anjinho chinês
pequeninhos dedinhos
meu choro é por você
é por todos os anjinho
femininos
mortos
nas barrigas femininas
ou antes do primeiro grito
anjinhos
menininhas sem mundo...
que tudo passa
eu sei
você também
vai passar
mas a crueldade é tão grande
...
e a pequena chinesa
jogada no balde
pezinho
pontinha do dedo
apontando no balde
tirada do ventre
jogada no balde
pequeno anjinho chinês
pequeninhos dedinhos
meu choro é por você
é por todos os anjinho
femininos
mortos
nas barrigas femininas
ou antes do primeiro grito
anjinhos
menininhas sem mundo...
10 março 2010
poeira
hoje meu olhar
é de urso panda
não ria das olheiras
não pense que me droguei
a vermelhidão dos olhos
é a poeira invísivel
que me chega como sopro
de você...
é de urso panda
não ria das olheiras
não pense que me droguei
a vermelhidão dos olhos
é a poeira invísivel
que me chega como sopro
de você...
06 março 2010
ausência
de todos os roubos
e assaltos
que você me causou
me restou aquela música
ela tem seu cheiro
sua voz
seu hálito de vida
quando a ouço
me banho de beleza
também de tristeza
música que me acalenta
que me atormenta
mata e ressuscita
ela, você e eu
mistério trino...
e assaltos
que você me causou
me restou aquela música
ela tem seu cheiro
sua voz
seu hálito de vida
quando a ouço
me banho de beleza
também de tristeza
música que me acalenta
que me atormenta
mata e ressuscita
ela, você e eu
mistério trino...
05 março 2010
03 março 2010
ilusão
todo dia
a gente carece
d'um pouquinho de ilusão
gotinhas de ilusão
para viver melhor
ou para viver pior
ilusão
a gente carece
d'um pouquinho de ilusão
gotinhas de ilusão
para viver melhor
ou para viver pior
ilusão
26 fevereiro 2010
capítulo I
antes de nascer foi dado
nasceu rejeitado
o primeiro grito no mundo
o primeiro choro de estranheza
foi ignorado
o primeiro alimento
não foi leite
foi chá
engoliu
mas vomitou
se pudesse teria sumido
corrido
mato adentro
como nao pode
trancou-se
fechou-se
em si...
nasceu rejeitado
o primeiro grito no mundo
o primeiro choro de estranheza
foi ignorado
o primeiro alimento
não foi leite
foi chá
engoliu
mas vomitou
se pudesse teria sumido
corrido
mato adentro
como nao pode
trancou-se
fechou-se
em si...
25 fevereiro 2010
sem colo
passei a tarde de hoje
com a sensação de ter acabado de nascer
e mamãe não queria me amamentar...
com a sensação de ter acabado de nascer
e mamãe não queria me amamentar...
21 fevereiro 2010
nas horas cinzas
o que em mim é mistério
somente se revela no cinza
cinza do tempo
quando minha alma dói
e os olhos são dois túneis iluminados
e não mentem
é na hora cinza
que sou o que sou
que me permito
que me deixo
que me abandono
que não conto o tempo
que não tenho passado
futuro
e o presente
não me rouba nada...
somente se revela no cinza
cinza do tempo
quando minha alma dói
e os olhos são dois túneis iluminados
e não mentem
é na hora cinza
que sou o que sou
que me permito
que me deixo
que me abandono
que não conto o tempo
que não tenho passado
futuro
e o presente
não me rouba nada...
09 fevereiro 2010
fragmentos poéticos - irlanda
07 fevereiro 2010
lapso
eu sou
entre duas noites
aquela antes d'eu existir
e a que virá naquele
meu último dia
neste mundo
entre duas noites
aquela antes d'eu existir
e a que virá naquele
meu último dia
neste mundo
14 janeiro 2010
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